BIFFF 2025 | Hidden Face
- Raissa Ferreira
- 21 de abr.
- 3 min de leitura
Em thriller erótico, Kim Dae-woo explora aparências e desejos ocultos, com trama de revelações bem dosadas
Quando a primeira reviravolta acontece em Hidden Face, a pessoa espectadora que já conhece os sucessos mais recentes do cinema sul coreano já está bem habituada à atmosfera apresentada. Com uma pitada de Parasita e uma boa dose de A Criada, curiosamente, esse longa que tem toda a cara de algo que um produtor estadunidense ficaria sedento para adaptar em inglês, já é, na verdade, uma adaptação de uma obra Colombiana. O thriller erótico de Kim Dae-woo, diretor que já tem experiência em explorar o erotismo em suas obras anteriores, faz jus ao subgênero principalmente nas primeiras cenas, em que Sung-jin (Song Seung-heon), com poucos dias após o abandono da noiva, mostra um desejo urgente pela nova musicista de sua orquestra, Mi-ju (Park Ji-hyun). Nessa trama em que a atração física dos corpos é fundamental, as imagens refletidas em espelhos se tornam um jogo de ocultar e projetar desejos ao mesmo tempo, uma corrida de gato e rato de provocação constante por ambos os lados, formando um triângulo em que a dinâmica do poder é puramente sexual.
Hidden Face tem aquela típica estrutura que busca prender a atenção de quem assiste, revelando seus mistérios em doses suficientes para que sua duração passe voando, sempre atiçando a desvendar a próxima etapa. A casa, já conhecida de Su-yeon (Cho Yeo-jeong) e Mi-ju, em sua adolescência, é projetada para que os espelhos funcionem como janelas de observação. Assim, a noiva que se prende voluntariamente para espiar o noivo, se torna, em uma vingança da antiga amante, uma espectadora forçada a assistir. Impossibilitada de sair, Su-yeon só pode ver, passivamente, o que se passa em suas telas grandes da realidade, enquanto Sung-jin explora o corpo de Mi-ju na casa que era do casal. Assim, a trama que conta com quatro roteiristas, possui um artifício do horror, a mulher presa, abandonada para morrer de fome enquanto vê seu noivo diariamente do outro lado dos espelhos (uma boa dose de Oldboy), mas torna a vingança e o desejo sexual seu maior ponto de atenção.
Do outro lado, aos poucos as camadas vão se desenrolando para quem assiste, mas não porque Hidden Face tem grandes segredos ou revelações a fazer, até os tem em certa medida, mas, na verdade, é mais atiçado à pessoa espectadora que acompanhe pelo simples desejo de assistir. Nada foge do óbvio, nada é absurdamente surpreendente, até por isso, Sung-jin e Mi-ju passam a confabular com certa tranquilidade sobre o que está ocorrendo, enquanto a noiva está passando fome nas paredes da casa. O filme tem o controle de seus acontecimentos, de como os apresentar a quem assiste, para que não precise confiar apenas no teor da história, mas na forma que a conta.
Esse controle narrativo é o mesmo que coloca seus personagens nesses jogos de poder e desejo. Su-yeon domina Mi-ju por uma dinâmica sexual antiga das duas, mas, mesmo depois de decidir viver uma vida de aparências em um relacionamento heteronormativo, ainda possui autoridade nas decisões da antiga namorada, por como diz as coisas a ela. Em dado momento, é Mi-ju que controla Sung-jin, primeiro vendendo a história de ser uma inocente conhecida de sua noiva, depois dosando o que conta a ele conforme é desmascarada. O triângulo é tensionado sempre dessa forma, com o poder trocando de mão entre as duas mulheres, enquanto o homem é mais uma peça articulada em seus favores, não que saia perdendo, bem pelo contrário.
O trabalho de câmera de Hidden Face, sempre brincando com os espelhos/ janelas, incita o desejo que vem do próprio reflexo, mas que é projetado naquele que assiste passivamente do outro lado. As duas mulheres, em suas dinâmicas de poder baseadas no sexo, tem na aparência, aquilo que é exibido ao mundo exterior, uma máscara que oculta suas vontades reais. Então Sung-jin é a casa perfeita, os espelhos que refletem a imagem do casal tradicional, ocultando a parte interna, em que o prazer carnal entre Mi-ju e Su-yeon ocorre longe de espectadores.
Nota da crítica:
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