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BIFFF 2025 | No Dejes a Los Niños Solos

Misturando referências a clássicos do cinema, Emilio Portes divide sua trama entre a imprudência caótica da infância e o horror sobrenatural sem personalidade

No Dejes a Los Niños Solos (Don’t Leave The Kids Alone)

Em tempos de pessoas ansiosas demais e estressadas demais, Emilio Portes leva a rua de Freddy Krueger ao México dos anos 80 e transforma pesadelos paranoicos em realidade. Quando a mãe e recém viúva Catalina (Ana Serradilla) está pronta para sair, a babá liga cancelando. Seus dois filhos pequenos, Mati (Juan Pablo Velasco) e Emi (Ricardo Galina) ficam empolgadíssimos com a possibilidade de uma noite sozinhos na nova e enorme casa. Com pilhas de caixas de mudança, o casarão na Elm Street parece ter espaço demais para os três, mas logo descobre-se que foi uma barganha em um leilão. A saída da mãe para uma festa, mostra-se longe de um passeio divertido, mas sim uma missão burocrática para resolver a papelada do imóvel. A vida da família depende desse recomeço, logo depois do acidente trágico em que o patriarca morrera. 


Com as crianças bem fechadas em casa, o filho mais velho responsável e uma pizza chegando, o que pode dar errado? A resposta de Portes é que basicamente tudo pode acontecer da pior maneira possível. Trabalhando como a mente de uma pessoa ansiosa no seu dia mais fraco, No Dejes a Los Niños Solos (Don’t Leave The Kids Alone) mistura o clássico dos anos 90, Esqueceram de Mim, com um horror sobrenatural. Emi, o menino mais novo, precisa de uma medicação diária, sem um motivo claro dado no longa, mas que dá corda a uma trama de psicose por parte do garoto. A dinâmica entre ele e Mati é estruturada nas rivalidades comuns de irmãos, de questionar quem é o favorito, colocar a culpa um no outro por bagunças e brigar por qualquer coisinha. Assim, existem dois caminhos que o filme segue e parece não se decidir bem ao misturá-los.


Duas crianças sozinhas em um casarão, um cachorro bravo amarrado no quintal, um jabuti de estimação, pizza, televisão e muitas caixas, é claro que quando suas cabeças começam a trabalhar, o resultado é uma bagunça generalizada. Então, até mesmo coisas comuns poderiam ser suficientes para uma tragédia. Pilhas de pratos se quebram, Emi se corta ao picar uma fruta e a besta do pai se torna um brinquedo bem perigoso. Os irmãos exploram a casa e estão cercados de possibilidades que podem dar muito errado.


Paralelo a isso, a festa em que Catalina está é mostrada alternadamente ao caos na casa. A mãe vai descobrindo o passado do lugar e de seus moradores, e logo chega ao motivo de conseguir comprar um imóvel tão grande por pouco dinheiro. Em uma das caixas Emi e Mati encontram uma tábua ouija, ligações assombrosas começam a manipular a mente do irmão mais novo e todo tipo de coisa estranha passa a acontecer, da televisão que remete a Poltergeist, outro clássico do horror em que crianças sofrem as maldições de uma casa, a imãs de geladeira passando mensagens. O antigo proprietário, que se enforcou, fora conhecido por criar rivalidades entre sócios, e agora parece se empenhar no plano espiritual para fazer o mesmo.


Os dois meninos seguram muito bem a trama e a dinâmica entre eles é bem angustiante, sempre criando tensão ao redor de tudo que pode acontecer. Eles são crianças, afinal, tem atitudes de meninos, por isso cacos de vidro e um entregador de pizza já são suficientes para construir suspense. A ambientação que fica entre os anos 70 e 80 funciona bem e ainda ajuda a intensificar a ansiedade, já que só um telefone preso na parede ajuda Catalina a se comunicar com os filhos, então o imediatismo dos tempos atuais é descartado e, no meio tempo de uma ligação e outra, muita coisa acontece.


No Dejes a Los Niños Solos tem esses potenciais todos, mas também soa como um pot-pourri de referências do cinema de horror (ou outros clássicos) que carece de personalidade. O fator sobrenatural, por exemplo, acaba menos interessante que toda a paranoia ao redor dos irmãos sozinhos se enfiando em problemas por suas próprias atitudes e medos. O espírito manipulador não é de todo ruim, mas soa mais genérico. Há um imaginário infantil na abordagem, o que é benéfico em boa parte do filme, que depende menos do terror de fantasmas, mas prejudica justamente essa segunda parte. O enfraquecimento também vem pelo filme assumir uma postura mais trágica e chocante ao final que não conversa tão bem com o tom proposto antes. 


Provavelmente, ao dissecar a mente de uma mãe, é isso que vão encontrar em seus pensamentos mais horríveis do que poderia acontecer com seus filhos. Concretizar isso tem seus erros e acertos, mas Mati e Emi fazem muito bem seus papeis e é quase impossível não se desesperar com eles.





 

Nota da crítica:

2.5/5


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