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BIFFF 2025 | Tabula Rasa

Juanfer Andrés e Esteban Roel jogam a pessoa espectadora em um vórtex ágil e caótico que faz todos questionarem suas sanidades

Tabula Rasa Juanfer Andrés e Esteban Roel

Um título que certamente já foi usado diversas vezes no cinema, e nas artes em geral, o conceito de “Tabula Rasa” refere-se à ideia de que as pessoas nascem com a consciência como uma folha em branco e tudo é aprendido a partir daí, formando o ser humano do zero, em uma rápida e livre descrição. Com este nome bastante popular, nasce o longa de Juanfer Andrés e Esteban Roel, na segunda colaboração dos dois na direção, uma produção entre Espanha e República Dominicana que possui modestos 70 minutos. A duração não é menosprezada, os diretores aproveitam cada segundo para apressar seu thriller de forma que em pouco tempo a pessoa espectadora está suscetível a questionar sua sanidade tal qual a protagonista. 


Leo (Macarena Gómez) é uma mulher rica mas claramente com muitos problemas emocionais. Com a chegada de Izan, seu bebê, a instabilidade dela parece piorar, então a família se une em uma pequena celebração na mansão do casal. O marido Julio (Carlos Bardem) ajuda a receber a cunhada Claudia (Amaia Salamanca), junto de seu novo namorado, Héctor (Ramón Emilio Candelario). Se tudo já é bastante estranho sem muito motivo, a fotografia bem clara e chapada intensifica um pouco essa percepção, e cada novo personagem é muito bem marcado pela encenação, como se até o vizinho tivesse grande importância na dinâmica, mesmo aparecendo rapidamente. A babá da casa, Luciana (Stephany Liriano) não é muito bem tratada por Leo, pra dizer o mínimo, e logo recebe a ordem de levar Izan para longe por algumas horas, pois a protagonista será internada em um hospital psiquiátrico.


O plano é dado assim, nem com muito alarde, nem disfarçando nada, Tabula Rasa não esconde da pessoa espectadora que há algo estranho sendo arquitetado nas costas de Leo, mas não explica de cara exatamente o que é. Quando Izan desaparece, na perspectiva da mãe, a vizinhança toda fica vazia e apenas Claudia lida com o ocorrido. Nesse ponto, quem assiste pode até ter uma vantagem de saber que Luciana levou o bebê por ordem de Julio, mas ainda assim tudo segue extremamente fora do comum. Essa sensação de desnorteamento será constante até o último segundo, mesmo que as informações não estejam ocultas da pessoa espectadora, tudo é manipulado para confundir e desestabilizar. 


A cada vez que Leo acorda, tudo está diferente, e logo percebe-se que sua família está agindo para a enlouquecer. Em um momento dizem que Izan não é seu filho, em outro ele ainda nem nasceu e na maioria das vezes, sua irmã é casada com seu marido. Como o tempo é curto, tudo acontece sem enrolação e isso ajuda a intensificar o sentimento de transtorno. As atuações muito marcadas, com a iluminação chapada e branca, junto dessa trama de reviravoltas, traições e perturbações mentais, resultam em um grande novelão. Tabula Rasa não pretende nem se levar a sério demais, nem dar margem para soar ridículo, mas lá pela terceira pessoa que aparece do nada em uma cena de briga, é difícil não rir, talvez de nervoso até. O fato é que isso não quer dizer que a obra seja totalmente cômica ou não saiba trabalhar o suspense, pelo contrário, por boa parte de sua duração, a angústia por Leo é bem atingida.


Como não há intenção da obra de esconder exatamente qual é seu grande segredo, Andrés e Roel se divertem mesmo é confundindo. Já que a realidade é perceptível, porque vê-se a mentira da polícia sendo elaborada, o suborno para a babá e, posteriormente, conversas dos personagens que deixam escapar suas intenções, Tabula Rasa vai bagunçando, então, como apresenta tudo para que ainda assim nasça a dúvida: será que quem assiste é tão louco quanto Leo?


É claro que a obsessão pelo plot twist e a encenação novelesca em exagero provocam suas medidas de risos, talvez uma das etapas do processo de perda de sanidade que o filme desencadeia, mas Tabula Rasa é difícil de ser qualificado a partir de seus processos não muito bem acabados ou trabalhados, pois fica mais a impressão perturbadora de ter sido sugada no vórtex caótico de seus acontecimentos, o que certamente é bastante divertido.




Nota da crítica:

3/5


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