BIFFF 2025 | The Son
- Raissa Ferreira
- 22 de abr.
- 3 min de leitura
Misturando a ficção científica, as tramas de vingança e o dramalhão televisivo, Na Jihyeon desequilibra o foco de sua narrativa em prol do impacto final
A vingança é um tema frequente nos filmes sul coreanos, sempre muito elaborada, cheia de revelações e articulações mirabolantes. The Son, que na verdade é um telefilme da série Drama Stage, foi apresentado no BIFFF como parte da competição internacional de longas, mas poderia facilmente ser um episódio de Black Mirror, só que com fortes influências do cinema sul coreano. Há questões interessantes sobre a produção audiovisual do país introduzidas na narrativa, principalmente em sua introdução, mas que acabam descartadas posteriormente, para que a trama se concentre puramente na relação com a ficção científica. No entanto, se fosse mais elaborado e com alguns minutos a mais, poderia ser um longa que une todos os aspectos de forma mais equilibrada.
Taehwan Kang (Jang Seung-jo) é um ator de sucesso na Coreia do Sul e, acima dele, só está um outro homem, aquele que conseguiu atravessar barreiras e se tornar uma estrela também em Hollywood e conquistar uma indicação ao Oscar. Para ultrapassar seu rival de carreira, ele precisa conseguir um papel no próximo filme do diretor Park, que está cotado para festivais, como Cannes ou Berlim. Só nesses primeiros pontos apresentados, vê-se como a produção audiovisual sul coreana vem buscando essa aproximação com o sucesso hollywoodiano, tanto ativamente influenciando no resultado dos filmes, quanto investindo pesadamente para que eles ultrapassem as bolhas e se tornem sucessos também nos Estados Unidos. O grande case de sucesso recente é Parasita, é claro, que venceu a Palma de Ouro em Cannes e, depois, o Oscar.
Para ser um pai convincente no longa do diretor Park, Taehwan Kang aceita participar de um projeto experimental, alimentando com sua atuação a inteligência artificial da polícia. Outro tema polêmico que foi central em Hollywood recentemente. No entanto, essas questões são apenas pinceladas, usadas para levantar a trama que não se importará muito com nada disso depois. Na verdade, o sistema de IA serve também para livrar o ator da cadeia, após um acidente de carro e, curiosamente, ele precisa interpretar um pai em ambos os projetos. Sua atuação na realidade virtual acaba ajudando-o a se aproximar de uma conexão verdadeira com uma criança, o que melhora sua performance no cinema. No entanto, The Son arquiteta tudo isso, mas se dedica muito mais ao que acontece virtualmente, até esquecendo do grande longa de festivais em vários momentos.
Aos poucos, Taehwan Kang cria um laço real com o menino que conhece pela IA, o vê crescer, se desenvolver, e sentimentos muito verdadeiros e genuínos são despertados. Porém, como o projeto serve para desvendar crimes, o ator sabe que o garoto irá morrer e que tudo aquilo é apenas uma projeção do passado. The Son vai cada vez mais passando tempo nesse cenário fabricado de quando o protagonista está no sistema da polícia e cada vez menos tempo no mundo real. Não é um filme que pretende dissipar o véu entre a realidade e o simulacro da inteligência artificial, seu maior foco é na arquitetura do plano que só será desvendado ao final, como tantas obras de suspense, horror e thriller de vingança costumam fazer. Então, a tecnologia é pouco uma questão, mais vale construir de uma forma bem cafona a relação pai e filho, pois esse laço é central ao que será revelado.
Como de costume em obras desse tipo, os esforços se concentram na grande reviravolta final e, por isso, muitas coisas são negligenciadas no caminho. É tão importante impactar a audiência com uma informação oculta que existem nuances interessantes na narrativa completamente abandonadas. Na Jihyeon pesa a mão no drama, com um protagonista que sofre demais por um filho que só conhece no ambiente irreal, fabricando um novelão com pitadas de Black Mirror. Não que isso tudo seja demérito, ainda é um filme eficiente em prender atenção e manter o interesse, que trabalha a tensão bem, mas é enfraquecido por valorizar demais a relação que, mesmo que preencha boa parte do longa, ainda é pouco substancial para o tanto que se deposita nela.
Por não dar atenção ao resto, a indicação ao Oscar e o sucesso do ator acabam sendo nota de rodapé no final, praticamente. The Son depende puramente do impacto final de sua revelação e de remoer as consequências da vingança no psicológico daquele que foi atingido, beirando um sadismo que é diluído na carga dramática sempre muito sublinhada.
Nota da crítica:
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