Curta de Kimberly Palermo trabalha de forma muito divertida trauma, sexo e fetiches, em contraste com sua estética lúdica de conto infantil inocente
São apenas 5 minutos em animação stop motion, a imagem com música clássica de fundo nos apresenta uma casa em que uma família feliz vive em harmonia. Perfeitamente organizado e amoroso, esse lar vive uma rotina, café da manhã com biscoitos, um filho pequeno que brinca com seus bonecos e antes de dormir escuta seus pais lerem histórias de contos de fadas. Uma noite, o pequeno acorda e vai até o quarto dos pais, a atmosfera é quase de horror e Kimberly Palermo brinca em poucos segundos com nossa percepção do que será que vamos encontrar ali. Provavelmente o mais inesperado, mas também um dos traumas mais temidos na infância de qualquer um. Mesmo com os bonequinhos feitos com apenas olhos e nariz, tão fofos em feltro, ainda é possível enxergar uma expressão de choque no pequeno ratinho que vê seus pais usarem e abusarem dos fetiches no momento em que ninguém deveria estar olhando. É todo trabalho do que mostrar e como mostrar que constrói essa narrativa com atores que não podem fazer muita coisa, são as mãos de quem opera que cria tudo.
A rotina é drasticamente balançada e nos dias que seguem, o rostinho traumatizado da criança segue congelado enquanto sua mente fabrica todo tipo de imagem sexual. A animação então insere dildos, vaginas, cenas de seus pais se desejando, se tocando e até realmente transando em sua frente, tudo inserido nos menores gestos mais comuns de seu dia a dia, que finalmente culmina numa grande orgia. Kimberly Palermo retrata esse trauma de forma muito divertida, projetado no cenário lúdico e no abalo dessa harmonia perfeita as maiores sacanagens que os pais de historinha infantil praticam, marcados para sempre na mente do ratinho que viu o que não devia ver. Simples, mas muito trabalhoso, o curta faz bastante em pouco tempo e com poucos recursos, dizendo tudo por meio da imagem.
Essa crítica faz parte da cobertura do FIM – Festival Internacional de Mulheres no Cinema, 3ª edição
Nota da crítica:
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