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Desejo e Obsessão (2001)

Foto do escritor: Raissa FerreiraRaissa Ferreira
Trouble Every Day

Talvez um dos sentimentos mais difíceis de se controlar, o desejo é a alma e o horror deste filme que não nos conta muito, mas nos leva, carrega por sensações e experiências. Temos personagens e pedaços de uma história com pitadas de ficção científica, mas nada disso tem um objetivo de nos entregar respostas. É preciso se entregar para essa experiência de Claire Denis assim como nos entregamos a um desejo incontrolável. 


Todos desejam algo neste filme. Aqui, a mulher canibal é como a total falta de controle por seus impulsos, a entrega à tentação. Com seu corpo constantemente coberto de sangue, sua obsessão sexual e por carne humana sempre a vence, deixando um rastro de destruição para suas vítimas e para ela mesma, pois é uma vontade que nunca terá fim, que nunca é completamente satisfeita, como um vício, chegando ao ponto dela dizer estar pronta para morrer. Seu marido tenta manter algum controle da situação, pois para ele o desejo é de cuidar da esposa, a manter por perto, bem. Ele acoberta seus crimes, limpa o sangue de seu corpo, esconde os vestígios do descontrole. Já no casal apaixonado, recém-casados, Shane carrega o mesmo desejo de devorar sexualmente sua parceira, mas tenta a todo custo controlar essa vontade. Os closes na pele de sua esposa preenchem a tela com o objeto de tentação do homem que imagina o sangue cobrindo sua mulher, que a morde forte o suficiente para deixar marcas, mas que ainda consegue se segurar. É nessa viagem de lua de mel que ele tenta reencontrar o médico em busca de ajuda para sua doença, uma que nasceu de uma complicada relação, de uma traição, de um desejo também. Para a apaixonada June, a vontade é de se conectar com seu marido, sexualmente e emocionalmente, de corpo e alma. Mas, assim como a mulher canibal é sucumbida por seus impulsos, Shane acaba cedendo ao desejo, estuprando e devorando a camareira do hotel que também desejou o homem mas foi surpreendida, se tornou vítima de seu impulso violento de quem segurou por muito tempo uma fome, uma sede.É quase um retrato visceral de humanidade, afinal, tentar controlar nossos desejos mais profundos e por vezes ceder a eles é extremamente humano.


Denis nos leva por essa viagem estampando seus planos com o vermelho vivo, brilhante do sangue, com as peles e os corpos tão próximos que perdem suas formas originais, é quase como se pudéssemos sentir o cheiro do sangue, as texturas, sentir a pele arrepiar, sentir em nós mesmos esse desejo assustador.

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