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Foto do escritorRaissa Ferreira

Dublê de Corpo (1984)

I like to watch.


Dublê de Corpo

É impossível não comparar Dublê de Corpo com Janela Indiscreta e, também, muitas vezes com Vertigo. Mas se em Janela Indiscreta, James Stewart conta com Lisa e sua enfermeira para olharem através da janela com ele e para tomarem ação enquanto ele permanece imobilizado, aqui, Jake é o único olhar que seguimos e que toma ação. Ele não permanece passivo por mais segura que seja sua posição na casa observatório, distante o suficiente para observar com seu telescópio sem temer ser visto. Mas, muito mais do que um filme sobre essa escopofilia, Dublê de Corpo é sobre Hollywood, mas não uma Hollywood glamurosa, de estrelas de cinema e tapetes vermelhos, e sim uma Hollywood para atores e atrizes amadores, que brigam por papéis pequenos em filmes duvidosos, dividem espaço com a indústria pornográfica, tem atuações exageradas e dependem de efeitos toscos.O marido de Gloria praticamente monta um filme para Jake, escolhe a atriz, o cenário, monta o roteiro e coloca o espectador, Jake, para assistir. Tudo é mentira, como no cinema, o corpo não é o verdadeiro corpo de Gloria, o assassino não é quem parece ser. Mas, ao contrário do espectador passivo, Jake toma ação e desvenda cada pedaço dessa narrativa.

Quanto às mulheres do filme, Gloria não tem importância como pessoa nessa narrativa, o que realmente importa é o que ela desperta em Jake. Temos relances de sentimentos dela que ajudam a construir o desejo em Jake tanto de estar com ela quanto de protegê-la, mas no fundo não sabemos muito sobre essa mulher, apenas conhecemos sua beleza superficial. Assim que percebe que não é o único que observa Gloria em segredo e que a mocinha pode estar em perigo, o protagonista sente o desejo de resgatá-la. Holly Body, a dona verdadeira do corpo exibicionista que assistimos com Jake pelo telescópio, não só tem corpo no nome, como também é reduzida a isso, seja na dança para atrair o protagonista ou em sua vida de estrela pornô. Holly é tão objetificada que é facilmente seduzida quando escuta que tem um sorriso bonito ou que atua bem, ao invés de ouvir elogios sobre seu corpo. Apesar de ter mais falas que Gloria, Holly também serve apenas para estimular Jake, seja sexualmente, ao instinto de resgatar outra mocinha ou para auxiliar na investigação.

Minha cena, ou na verdade, sequência favorita, com certeza é a gravação do pornô ao som de Frankie Goes To Hollywood — Relax, que referencia o clipe da música e além de ser muito bem dirigida e filmada, tem uma relação interessante de bastidor, por dentro do filme. Mesmo antes de Jake ver Holly, nós já esperávamos o encontro dos dois e, em seguida, quando a câmera é revelada, vemos que tudo faz parte de uma gravação. Na cena de sexo, Jake e Holly transam de uma forma bem mais tranquila e apaixonada que uma cena pornográfica pede, já que no cinema o sexo tende a ser mais bonito, mais maquiado, e na indústria pornográfica ele tende a ser violento, agressivo e, é claro, explícito. Na cena de Jake e Holly a música muda para algo mais romântico, as cenas se intercalam entre eles e as lembranças de Jake beijando Gloria (à la Vertigo) de forma apaixonada e, no clímax, podemos ver uma representação de prazer mais verdadeiro na mulher, totalmente diferente do que um pornô faria, o que é notado pela produção.


Quando Jake supera seus medos para não só sobreviver, mas também fazer bonito na frente das câmeras, o vilão morre, o que seria um desfecho comum apesar de deixar um milhão de perguntas sobre tudo que aconteceu. Mas, o filme não termina quando o vilão morre, e sim numa cena final mostrando o cinema por dentro, o que também não é novidade nos filmes de De Palma. O diretor praticamente nos explica como é filmar com um dublê de corpo, mostrando toda a técnica por trás dessa mentira montada do cinema, um corpo sem rosto, um efeito. Afinal, Dublê de Corpo é um filme em e sobre Hollywood, tudo aqui é atuação, narrativa, mentira e cinema.



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