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Foto do escritorRaissa Ferreira

Medida Provisória (2022)

Lotando salas de cinema pelo Brasil, o primeiro filme dirigido por Lázaro Ramos chama atenção, mas se entrega à derrota



Em muitos momentos enquanto assistia a Medida Provisória me perguntava qual era a verdadeira mensagem que Lázaro Ramos queria nos passar com tudo aquilo.


A direção do filme se perde completamente em cenas que não sabem se sustentar pela imagem e se apoiam num roteiro pobre para tentar dizer algo, com discursos constrangedores. Ninguém parece real, todas as falas parecem tiradas da internet ou de alguma piada ruim. O personagem de Seu Jorge, que parece ser o único ponto bom aqui, traz um humor que até funciona e diverte, mas não consegue salvar os outros pontos.


Tudo é tão absurdo que a comédia usada no longa faz sentido, se encaixa, mas causa problemas quando o filme tenta criar tensão em cenas dramáticas que nunca conseguem construir emoção, tudo ainda parece uma esquete, não tem força suficiente.


Lázaro parece não conseguir dizer nada substancial mesmo com seus personagens falando muito. Desde a explicação da necessidade de insulina do personagem de Alfred Enoch até o remédio abortivo que Capitu (Taís Araújo) pensa em tomar, a direção tem dificuldades em dizer sem expor demais, falar demais ou literalmente escrever para o espectador entender. Além disso, diversas cenas que teriam um potencial dramático e ideológico perdem completamente a emoção e banalizam grandes momentos, por vezes os tornando até cômicos e sem sentido - a cena em que Capitu começa a falar parece que vai tirar um discurso do peito mas não dá em nada, mais uma vez. Quando o filme tenta nos mostrar algo a mais, numa das cenas mais lamentáveis dos últimos tempos (e já comentada extensamente por aí), ele traça um paralelo que nos faz questionar se é esse mesmo o posicionamento que querem nos entregar.



Escolher fazer um filme político em tempos de fome, miséria, preconceito, violência, em tempos em que os brasileiros lutam para sobreviver contra um governo que faz de tudo para dificultar essa existência, deveria carregar uma responsabilidade maior. Infelizmente, Medida Provisória soa derrotista e não dá poder às pessoas para reagir. Aqui, resistência é se esconder, Lázaro parece nos dizer que sobreviver já é o suficiente, abaixar a cabeça e existir já é lutar. Enquanto um dos personagens é assassinado pela polícia, o outro apenas observa e chora, sua reação é no máximo um soco. Numa situação absurda em que toda a população preta é retirada do país, não há luta, só a ideia de que enquanto se escondem e vivem estão, de alguma forma, vencendo. O tom otimista ao final parece piorar ainda mais essa intenção, tudo parece em vão pois há um quê de celebração em se entregar, em voltar a se esconder, em deixar eles ganharem. Se pessoas oprimidas há séculos tem medo de reagir e morrer na vida real, talvez coubesse ao cinema dar alguma força e visibilidade para essa luta, mostrar algum ódio a um sistema tão injusto, ou causar ainda mais indignação no espectador, expondo a violência que vivemos, sendo pessimista. Qualquer caminho seria melhor, nos faria sentir algo mais forte do que a ideia fraca e derrotada que Medida Provisória nos traz.


Além dos claros problemas técnicos do filme de estréia do diretor, o que mais me entristece no longa é justamente essa mensagem, que me lembra o que Mark Fisher tanto nos ensinou sobre o capitalismo. Estamos derrotados, não vemos alternativas, estamos dispostos a nos submeter à tirania pois acreditamos que temos alguma liberdade, acreditamos que estamos sobrevivendo e resistindo enquanto o sistema continua girando e nos vencendo. É mais fácil imaginar viver num bunker para sempre do que lutar pelo fim da medida provisória? É mais fácil fazer um filme que não tem coragem de mostrar ódio, violência, luta e resistência de verdade?


Por fim, Medida Provisória ainda é nosso cinema e é sempre bonito ver tantas pessoas nas salas, ver diversidade nas telas, nas equipes, mas também entre os espectadores, nossa cultura ainda sobrevive com tantos lutando pra existir. Como Paulo Emílio Salles Gomes disse uma vez, “até o pior filme brasileiro nos diz mais que o melhor filme estrangeiro” e esse diz muito sobre nós, mas talvez não o que era esperado.


Nota da crítica:

2/5



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