Adam Wingard retorna para o Monstroverso com os mesmos problemas de seu filme anterior mas sem o mesmo fôlego e imaginação dele
Em Godzilla vs Kong, depois de uma sequência de filmes ruins envolvendo o personagem do Godzilla nos Estados Unidos, eu fiquei positivamente surpreso em como o diretor Adam Wingard – um desses sujeitos talentosos do cinema de gênero estadunidense – no longa de 2021 se utilizou de aspectos visuais como o uso de neon e uma agressividade bem grandiloquente para compor os embates dos personagens títulos gerando o melhor filme do MonstroVerso, mesmo tendo que lidar com um roteiro protocolar e programado que envolve dramas e dinâmicas de personagens humanas que são completamente desinteressantes e mecanizadas.
Nesse filme de agora de 2024, a continuação Godzilla e Kong: O Novo Império, minha surpresa foi pro lado mais negativo da coisa. Novamente dirigido por Wingard e com um roteiro onde ele participa do argumento, temos um filme com bons conceitos em separar os personagens e lidar com eles como se eles estivessem em diferentes fases de video–game até todos terem que se encontrar e de como as criaturas são caracterizados dentro dessa lógica. O problema e o que impressiona é que as lutas, as cores, os brilhos, os contraluzes e os efeitos que se destacaram no filme de Wingard parecem aderirem a uma funcionalidade protocolar – onde o neon e o teor estilizado que acompanhava a ação de maneira anterior não faz diferença e nem é tão usado – que tudo todos esses aspectos mais fantasiosos e caricatos muito neutros e sem uma atmosfera de maravilhamento e envolvimento com aquilo visualmente. A psicodelia visual dos combates e dos mundos Wingard surge de modo muito mais quadrado.
Isso sem falar de como toda aquela civilização de macacos do próprio Kong na tal Terra Oca – que é o grande foco do filme já que o Godzilla pouco aparece – é iluminada com pouca luz e com o fundo desfocado o que te tira do envolvimento com aquele universo novo apresentado. As criaturas apresentadas ali também parecem só preenchimentos de roteiro. Esses traços são uma versão menos inspirada do trabalho que ele concebeu no filme anterior e que deixam uma sensação de apatia por onde se passa fazendo desse um blockbuster mais comum. O que fortalece o desinteressante nos personagens humanos que existem no filme para explicar o mundo daquelas criaturas, serem tipos excêntricos pitorescos que repetem uma sucessão de piadas manjadas (o Brian Tyree Henry e o Dan Stevens – substituindo o Alexander Skarsgård – parecem personagens de um filme Roland Emmerich) e um investimento em dramas emocionais na personagem da Rebecca Hall e da sua filha que tem um peso falso e parecem apenas preenchimento de roteiro.
Toda a passagem deles por uma tribo (que me lembrou um momento do Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida) e o tempo investido nisso parece só enrolar o nosso interesse de fato pelas criaturas que queremos ver e que já são registradas de um modo mecanizado pelo filme. A operação de blockbuster meio genérico que usa dessa equipe para passear por aquele mundo com os seus contraluzes, os seus dourados e as suas caminhadas em câmera lenta só são derivações do que já é costumeiro em outros blockbusters, deixando que tudo fique mais falso. E o problema nem é a artificialidade, parte do trabalho de Wingard, o problema é ela ser tão sistematizada. É uma pena que Wingard enfatize ainda mais os pontos fracos do seu filme anterior e não apresenta o mesmo fôlego das qualidades dele.
Filme assistido a convite da Warner Bros. Pictures e CDN Comunicação
Godzilla e Kong: O Novo Império está em cartaz nos cinemas
Nota da crítica:
2.5/5
Crítica escrita por Diego Quaglia
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