Crítica - Premonição 6: Laços de Sangue (2025)
- Raissa Ferreira
- há 2 dias
- 4 min de leitura
Adam B. Stein e Zach Lipovsky ressuscitam a franquia com novo fôlego e paixão por seus maiores atrativos
Nos anos 2000 iniciava-se uma franquia que marcaria o cinema de horror e definiria a lógica de tantas outras obras. O mesmo havia acontecido em 1996, quando Wes Craven trouxe Pânico ao mundo e estabeleceu-se dentro do gênero como uma referência. As duas séries de filmes podem se diferenciar de muitas formas, na autoria e qualidade, principalmente, mas possuem lugares muito característicos no cinema e no imaginário popular. A produção de horror audiovisual sempre terá novos lançamentos que bebem dessas fontes, assim como dirigir em uma estrada nunca mais foi a mesma coisa depois de Premonição 2.
Com 25 anos entre o pontapé inicial do primeiro filme e seu sexto capítulo, e 14 anos de pausa na franquia, pode-se dizer que o legado dessas obras atravessa gerações, uma ao menos, de quem cresceu frequentando locadoras e descobriu que a morte tem uma lista e não gosta de ser passada para trás, até aqueles que nasceram depois e hoje podem ver seu primeiro Premonição ser lançado nos cinemas. De parques de diversão até acidentes em shoppings, quase tudo já foi feito nesses longas e, agora, a dupla de diretores Adam B. Stein e Zach Lipovsky une-se aos roteiristas Guy Busick, que também trabalhou nos novos capítulos de Pânico (2022-2023), e Lori Evans Taylor, para mudar um pouco a lógica da franquia e dar um novo gás à sua alma.
Premonição passou por altos e baixos. Lá no capítulo 4 descobriu o 3D sem entender muito bem seu uso, além de jogar objetos na cara da pessoa espectadora, e foi quando perdeu muito do seu fôlego. Bem marcante nos dois primeiros filmes e com bons momentos no terceiro, chegou ao quinto longa fechando seu ciclo e retornando ao ponto em que tudo começou nos anos 2000, e nesse momento já não era de se esperar muito, porém atualmente, em tempos em que o cinema vive da nostalgia que vende fácil, um sexto episódio até empolga pelo legado da franquia, mas não vem com enormes expectativas.
No entanto, Premonição 6: Laços de Sangue lida surpreendentemente muito bem com tudo que veio antes, sem depender puramente da muleta que é o nome que carrega, e ainda menos se escorando em piscadinhas bobas aos fãs. A inspiração mais forte em Premonição 2 se mostra um diferencial, já que a maioria dos capítulos é extremamente dependente do original, mas a forma como Stein e Lipovsky dosam bem a nostalgia e encontram alguma originalidade, aproveitando a evolução dos efeitos visuais e da definição digital para explorar melhor as cenas, detalhes e a profundidade de campo, ao mesmo tempo em que respeitam a fórmula básica da franquia e seu senso de humor, é um refresco em tempos de criatividade anêmica e serviço fácil aos fãs.
Entre a introdução impactante comum a todos os filmes, cenas de mortes criativas e a ordem fatal que deve ser respeitada, Premonição 6: Laços de Sangue busca alterar sutilmente a dinâmica, inserindo personagens que não estão diretamente ligados à premonição inicial do filme, mas devem morrer por uma correção na linha do tempo atrelada à biologia. Como todos ali são parentes, descendentes da amaldiçoada da vez, o sexto filme consegue se conectar a seus personagens de forma mais ativa do que os outros fizeram. Isso confere ao longa um otimismo inédito, já que o sentimento coletivo é de que todos devem tentar se manter vivos juntos, vencendo mais rapidamente a descrença.
Dando uma forçada no melodrama, a obra dá corda à pessoa espectadora para acreditar em uma vitória contra o vilão sem rosto, algo que sempre foi o objetivo de todos os grupos nos capítulos anteriores, porém nunca passado a quem assiste como uma verdadeira esperança. Há sempre uma conexão maior com quem possui o dom da premonição, personagem geralmente atrelado mais fortemente a um ou outro integrante da maldição, no entanto, em geral, Premonição é uma franquia que pede que divirta-se com mortes super elaboradas, as espere com alguma expectativa, então sobreviver acaba ficando contra seu próprio propósito. Por que então, agora, colocar uma família como centro, construindo ao seu redor empatia e otimismo? Essa conexão torna-se mais uma distração, na verdade, permitindo que no caminho seus jovens genéricos esperando para morrer sejam menos esquecíveis do que aqueles dos últimos filmes, mas não o suficiente para que suas tragédias não satisfaçam alguma expectativa.
Inevitavelmente, a presença de Tony Todd é o único fator capaz de causar emoção, em uma cartada bastante bem aproveitada pelos diretores, que não serve a uma referência vazia, mas homenageia de forma eficaz a existência sábia do personagem e permite uma despedida calorosa ao grande ator. Sua presença sempre mística na franquia é concluída no sexto filme como uma história de origem de um heroi e ao mesmo tempo seu desfecho, seguindo a atmosfera constante de Premonição de que tudo é um grande ciclo.
Provavelmente o mais interessante de Premonição 6: Laços de Sangue é como ele se apropria da paranoia, algo que a franquia impregnou nos fãs de cinema de horror desde os anos 2000, e a torna sua ferramenta narrativa mais do que a lista do assassino invisível. Acompanhando um sentimento social pós-pandêmico, a clausura em casa e a proximidade aos familiares se torna a grande garantia de segurança, enquanto o mundo exterior é a definição do destino fatal. Se normalmente acompanhar as cenas mirabolantes de Premonição, em que personagens morrem de maneiras bizarras, sempre foi o maior objetivo e diversão, agora, a paranoia que ronda a lógica dos filmes, de se preocupar com qualquer parafuso solto ou gota de água, torna-se um entretenimento ainda maior e também a arma de defesa dos personagens envolvidos.
A nova protagonista assume que ser capaz de interpretar os sinais é o único jeito de driblar a entidade. Enquanto outros episódios flertaram com essa ideia, mas são mais pautados em uma corrida contra o relógio, o sexto deita e rola nela e absorve o potencial de enfatizar os detalhes, saboreando o tempo de ação da morte em sua arquitetura pré-finalização. Então, entre o otimismo crescente de que ao menos os irmãos principais poderão sobreviver, no que poderia ser um final bem anticlimático, e a apropriação da paranoia como a principal lógica narrativa, Premonição 6: Laços de Sangue consegue ter voz própria mas ainda assim respeitar a essência da franquia. Não há como vencer a morte, ainda bem, mas pelo visto tem como ressuscitar uma franquia com muito mais força do que ela deixou no final.
Nota da crítica:
3.5/5
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