Cobertura dos curtas selecionados na Mostra Raízes, exclusiva para obras baianas
O Tempo das Coisas
2024 / TEOLÂNDIA - BA
Direção, Fotografia e Montagem: Lara Beck
Captando com a câmera estática as muitas pessoas da comunidade rural de São Paulinho, Lara Beck permite que o fluxo e a autenticidade delas protagonize as cenas, sem estabelecer um rumo específico ao que será dito ou construído com seus depoimentos. Cada pessoa tem a liberdade de contar o que tem vontade, de suas relações com a diferença da vida na cidade grande para o afastamento desse caos e a vivência próxima da natureza, até momentos mais espontâneos de danças, histórias cotidianas e reflexões. O tempo no campo é diferente do urbano, logo, o ritmo é ditado por esses personagens como a própria natureza dá seu relógio para cultivar o alimento. O Tempo das Coisas é, portanto, um retrato bem natural de uma vida da qual muitos de nós estamos desconectados, e dos rostos e personalidades que habitam esse lugar tranquilo em que tudo acontece no seu tempo.
Caminhos Abertos
2024 / CACHOEIRA - BA
Produção, Roteiro e Direção: Bárbara Lima
Com ótimas intenções mas um formato totalmente engessado, Caminhos Abertos eleva com bastante carinho um debate importante a partir das vivências de seus personagens, em depoimentos diretos e lineares, traçando a trajetória de cada pessoa do ensino médio até o ponto atual em suas graduações na universidade. O objetivo bastante claro, de explorar a partir das entrevistas, do que é dito, como a educação é um fator fundamental na transformação da sociedade e como esse acesso é disponibilizado levando em consideração a classe social, a distância dos grandes centros das cidades, acúmulo de tarefas na rotina diária, gênero e raça, apoia toda a potência de seu trabalho na simplicidade das palavras, sem uso criativo do cinema para construir significado. É, basicamente, o formato mais tradicional usado em trabalhos audiovisuais de faculdade, algo próximo e inspirado em obras comerciais ou jornalísticas, que posicionam câmeras, captam respostas, ordenam as cenas intercalando pessoas e montando uma linha de raciocínio crescente que responde uma pergunta por vez. O tema importantíssimo abordado aqui e o teor dos depoimentos, é capaz de gerar reflexões apesar da simplicidade pouco criativa, levantando questões sobre dificuldades, barreiras e pontos de extrema relevância ao se pensar o acesso à universidades no Brasil, principalmente nos contextos apresentados. No fim, a simpatia construída nas relações entre cada pessoa e a execução coerente apresenta alguma satisfação no resultado, mas parece distante de uma afinidade maior com um cinema documental mais inspirador.
Dança do Adeus
2023 / SALVADOR - BA
Produção e direção: Agnes Aguirre
Trabalhando bem a simplicidade do que está a seu alcance, Dança do Adeus explora a profundidade de uma tristeza gritante a partir do espaço e dos objetos ao redor de sua protagonista. Agnes Aguirre arquiteta sua narrativa pelos elementos, preenchendo o silêncio para construir uma história clara e objetiva com tudo que há nas cenas, a sujeira, a bagunça, um pedaço de papel com um desabafo e a reação direta da personagem a tudo isso, sem que seja preciso dizer uma única palavra. Ainda que seja composto de repetidos planos com alguma obviedade didática, o curta emana certa sensibilidade que busca soluções imagéticas, é um trabalho que vai de encontro mais à criatividade do que pode ser contado pelas imagens do que pelo texto. Assim, pouco se demora nesse vínculo mas explicativo do conteúdo da carta ou qualquer outra pista mais expositiva, mantendo a câmera sempre muito próxima da garota triste para que a relação mais importante seja dela mesma com o espaço e por meio desta, seja sentido o acontecimento passado e a resolução final.
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