Coming of age de Nicholas Colia coloca em embate o amadurecimento precoce com as novas experiências que apenas o tempo pode trazer
À primeira vista, Griffin (Everett Blunck) parece quase um idoso preso em um corpo de criança. Seus colegas são o retrato perfeito da idade, entre os 14 e 15 anos, no começo da adolescência, enquanto as roupas e as muitas regras fazem do protagonista um pequeno ranzinza. Essa fase da vida específica escolhida por Nicholas Colia é quase uma ponte que leva da infância até o início de um amadurecimento que transforma relações, corpos e comportamentos. A melhor amiga, por exemplo, vivida por uma atriz que protagonizou um dos melhores coming of age recentes, Abby Ryder Fortson, já tem um namorado mais velho, faz planos de viajar com ele e tem toda uma nova agenda para as férias de verão que incluem festinhas com bebidas. Enquanto isso, Griffin só quer fazer sua peça de teatro e pouco compreende como seu grupo de amigos há pouco tempo tinha tanta disponibilidade para ensaiar com ele e agora já levam outra vida. O pequeno protagonista se dá então como um ponto estagnado que envelheceu de alma rápido demais, claramente empurrado pelos problemas familiares em casa, do pai sempre ausente e a mãe (Melanie Lynskey) desgastada pela ausência injustificada do marido. É a chegada de um jovem, praticamente um bad boy, que desperta novos sentimentos no menino, abalando até mesmo suas estritas normas para encontrar algo que apenas o amadurecimento comum poderia trazer, as descobertas do amor.
O contato de Brad (Owen Teague) com Griffin não cria uma descoberta sobre a sexualidade do garoto, o que seu corpo e sua mente parecem notar é um interesse amoroso que não passa por essa primeira barreira de se descobrir gay, como se essa história já estivesse compreendida em si mesmo, e, agora, a primeira paixão de verão viesse em um território bem sedimentado, ainda que toda a dinâmica garanta ótimas cenas de gay panic quando o menino observa o corpo de Brad. Mesmo que o ajudante demonstre interesse puramente por mulheres, o jovem apaixonado por teatro enxerga nesse amor platônico um abismo puramente etário e se mostra destemido para se jogar de cabeça nos sentimentos. Essa inocência de que a relação é possível e o romantismo típico do artista, são laços que demonstram que Griffin pode se vestir e agir como for, ele é ainda apenas uma criança inexperiente em tantas coisas da vida. A paixão o tira dos eixos, como faz com qualquer pessoa em qualquer idade, o levando a quebrar suas próprias regras para abraçar até as menores chances de passar algum tempo com Brad. O filme passa a apreciar cada momento em que Griffin imagina aproximações entre os dois, como se acompanhasse os delírios platônicos para trazer um tom cômico, ainda que retrate o bad boy como ele realmente é, um adolescente preguiçoso e despreocupado que não dá a mínima para o menino. Ainda assim, a câmera viaja e se aproxima sempre que Brad diz algo que faz Griffin suspeitar que esse amor é possível, levanta uma trilha sonora quase de conto de fadas e a corta de forma seca quando a realidade toma conta.
Paralelamente aos avanços da peça de teatro, dos confrontos entre o protagonista e seus colegas da mesma idade que já estão amadurecendo enquanto ele permanece preso, e ao encantamento que o empurrará para essa nova fase, a mãe passa os dias no telefone tentando entender o que acontece com seu casamento. Os conflitos servem de inspiração para Griffin alimentar o roteiro da peça, bem como suas conversas e sentimentos por Brad, tudo de bom e ruim acaba no texto denso do teatro. Assim, além de finalmente se deixar levar por algo muito próprio de sua idade e dessa forma conseguir amadurecer junto de seus amigos, o menino permite que todas suas experiências vividas sejam materiais para construir sua arte, chegando ao final em um resultado colaborativo, pelo reencontro com o grupo, e pela autenticidade de tudo que se traduziu da realidade para o roteiro de ficção.
Usando lógicas bastante comuns do coming of age, o longa não se separa muito da maioria recente do subgênero, mas traz uma história queer que não se concentra na descoberta da sexualidade, e sim lida com ela como algo já bem aceito e estabelecido. O menino de alma velha e rígida se transforma pelo amor de verão, quebra regras, toma péssimas decisões, quebra a cara e se levanta novamente, nada mais típico de ser adolescente. O que Griffin in Summer (vencedor de três prêmios em Tribeca) faz é fugir das narrativas LGBTQIA+ trágicas e transforma todo esse processo em algo divertido de assistir, apesar das dores no meio do caminho, para levar seu protagonista de uma fase até a outra, com todo apoio ao seu redor.
Nota da crítica:
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