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Tribeca 2025 | Inside

Em sua estreia na direção, Charles Williams retrata o sistema prisional australiano e a jornada de culpa e perdão de três homens


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Quando pensamos em produções audiovisuais que retratam penitenciárias, normalmente o imaginário pode ser guiado para uma ideia estadunidense do sistema. Já com sua estreia na direção de longas, Charles Williams busca explorar o encarceramento de homens na Austrália e, a partir disso, traçar um panorama psicológico da violência que atravessa gerações e transforma pessoas em criminosos. Para isso, Inside usa três personagens masculinos que encaram de maneiras diferentes suas responsabilidades pelos crimes cometidos. Mel (Vincent Miller), um jovem que se muda do reformatório para a prisão com outros adultos, Warren (Guy Pearce), um homem que já refletiu sobre sua pena e quer voltar ao mundo real e reencontrar o filho, e Mark (Cosmo Jarvis), o criminoso mais odiado do país que usa a religião para compreender e perdoar a si mesmo.


A chegada de Mel na penitenciária coloca Mark e Warren como figuras paternas, cada uma à sua maneira. O fanático religioso representa perigo ao mesmo tempo que tenta ser seu mentor, já o homem que é de fato um pai do outro lado das grades, exerce esse papel de maneira mais orgânica. O contato com os dois desperta em Mel seus pensamentos sobre a condicional, um benefício que está próximo para ele e é trabalhado com os profissionais do sistema constantemente. A partir disso, Inside lida com os traumas do jovem, costurando flashbacks que servem como sua memória fragmentada, sempre acompanhados de uma narração em off, um quebra-cabeças que vai sendo elaborado ao longo do filme.


Pelas lembranças de Mel, compreende-se como ele é incapaz de se perdoar ou perdoar seu pai, como a violência que testemunhou ainda criança acabou definindo seu futuro. A prisão parece servir a ele como uma segurança de si mesmo e qualquer menção a sua possível liberdade é um gatilho para o descontrole. Assim, Mel passa a ver em Mark tudo que há de pior em sua vivência e desse reconhecimento vem o desejo violento. Warren, do outro lado, é o conselheiro mais racional. O homem quer andar na linha, até certo ponto, para sair e retomar o laço com o filho. Todos ali são, de alguma forma, crianças negligenciadas ou vítimas de uma sociedade que falhou com eles, e o desejo de Warren era que seu filho não continuasse o ciclo, algo que acaba sendo projetado e concluído em Mel. 


Tanto quanto tenta entrelaçar as histórias dos três homens, mostrando esses ciclos violentos que os atravessam, Inside também busca trabalhar suas jornadas individuais, mas isso só existe efetivamente no caso de Mel e Warren, enquanto Mark é muito mais um personagem retratado a partir do que os outros dois enxergam dele. O criminoso mais odiado da Austrália tem sua história contada pela televisão, por conversas entre outros presos e por seus sermões na igreja. Aos poucos aprende-se que ele também era uma criança que sofreu e se tornou um monstro, condenado à vida encarcerado, e agora, adulto, tenta compreender tudo aquilo. 


A dor que esses homens causam é comparável à que sofreram? É possível racionalizar a responsabilidade de toda uma sociedade quando uma pessoa comete um crime brutal contra outra? São perguntas que surgem enquanto Williams faz um filme que não foge muito do que já foi trabalhado em outras obras no mesmo ambiente e mergulha em uma análise psicológica desses personagens equiparando seus laços a papeis familiares. No fim, a ambição soa maior do que o que de fato está sendo trabalhado.


De forma mais simples, Inside projeta em Mel as personalidades dos dois homens adultos como seus dois lados, o caminho sem volta na prisão ou a possibilidade do perdão. A mente do jovem, junto de suas lembranças, são lidadas de forma mais conceitual do que concreta, então muito de seu destino parece mais determinado pelo acaso do que por seu próprio desenvolvimento. Warren é o único personagem com uma progressão mais definida, sendo confrontado pelas consequências de seus atos, por sua falta de controle com o homem que seu filho se tornou e por como se conecta a Mel nesse nível familiar. 


Já Mark é o clássico criminoso, julgado sem perdão pela sociedade ou por seus colegas. Sem futuro, fadado por seus atos, mesmo que o crime terrível que cometeu aos 13 anos seja mencionado brevemente apenas ao fundo, o que facilita desvincular sua imagem de um asco tão grande no filme. É mais a postura, as atitudes e a forma como os outros enxergam Mark que dão a ideia de que ele é a pior pessoa ali. Enquanto isso, Mel é retratado de maneira muito mais inofensiva, jovem, quieto, pele lisa e rosto novo, e embora tenha seus ímpetos descontrolados, sua imagem atenua a impressão de risco, tornando-o mais uma vítima. Todos estão na mesma prisão, por vezes na mesma cela, todos encaram destinos similares desde a infância, mas seus julgamentos e suas culpas são encarados de formas muito diferentes.




Nota da crítica:

2.5/5


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