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Foto do escritorRaissa Ferreira

A Baleia (2023) | Fraser brilha no mar de apelos de seu capitão

Aronofsky tenta um olhar positivo por meio do personagem forte e otimista de Brendan Fraser mas perde a mão na manipulação do impacto emocional



É curioso como Aronofsky saiu de “Mãe!” (2017), um filme que retrata uma humanidade tão brutal e com total desesperança para o mundo, para chegar em A Baleia sendo puxado por um protagonista que olha com otimismo para as pessoas. Charlie (Brendan Fraser) é um homem aprisionado em um corpo que inevitavelmente morrerá, em um filme que olha para seus últimos dias em busca de alguma redenção. Por si só, a atuação de Fraser, que compreende e abraça honestamente esse personagem, já seria potente o suficiente para criar algo interessante e emocionante, mas infelizmente o diretor força um impacto desnecessário pela trilha sonora - constantemente pontuando o que devemos sentir - e das atuações dos outros ao seu redor - destaque negativo para Sadie Sink que traz um dos momentos mais fracos e apelativos do longa. Os pontos fortes, além de Fraser, ficam por conta da ambientação e da também interessante atuação de Hong Chau.


O longa cria uma atmosfera sufocante pelo aspecto 4:3 que constantemente aperta Charlie nos planos, nos aproximando dessa sensação angustiante da prisão de carne e osso em que o homem vive, quase sempre com dificuldade para respirar, e também por manter sua encenação sempre fechada dentro do apartamento. A porta de entrada serve como única janela que temos para observar o mundo lá fora, sempre nublado e úmido, como um mar agitado pela tempestade - criando uma relação com Moby Dick, o famoso e clássico romance da baleia branca. Todos chegam por ali, atravessam chuvas para visitar o homem recluso em seus dias finais. O som da água caindo lá fora e a escuridão estão sempre presentes, reforçando Charlie como uma pessoa que se esconde, quase como um animal numa caverna, periodicamente assistido pelos poucos que ele permite a visita. A atenção não é constantemente direcionada para o julgamento que a sociedade pode ter com o corpo obeso de Charlie, que funciona como uma alegoria, e foca muito mais no drama interior do protagonista, que não quer lutar para viver e vê beleza em todas as pessoas, acreditando em seus potenciais. Há uma alternância entre esse acolhimento e aproximação das pessoas com ele, e entre o estranhamento inicial e o distanciamento que ele mesmo impõe, optando por deixar seu corpo o consumir até o fim.



Porém, apesar de ter seus bons momentos nesses pontos, Aronofsky mostra uma incapacidade de lidar com tais emoções e parece só encontrar saída forçando o impacto com técnicas vazias. Obviamente o diretor nunca foi sutil em toda sua carreira, mas soube encontrar formas muito mais eficientes e menos escrachadas de transmitir emoções sem precisar nos passar um guia explicativo. Em A Baleia, a trilha sonora talvez seja a maior problemática nesse sentido, pois é possível perceber a todo instante que o diretor está pontuando o que precisamos sentir em cada momento, gerando mais desconforto do que emoção. Elementos como a trilha podem ser usados de forma muito mais efetiva e já foram inclusive pelo próprio Aronofsky, mas aqui ele parece não saber como se garantir e perde a mão. A atuação de Sadie Sink acaba sendo outro ponto desconfortável. A jovem rebelde não tem muita profundidade e acaba apelando para um sentimentalismo barato, pouco trabalhado. Nesse sentido, apenas a relação entre Charlie e Liz (Hong Chau) tem mais potência, pela complexidade dos sentimentos que carregam pelo passado compartilhado.


Charlie é um homem que desistiu de viver e tenta se destruir de dentro para fora, mas mesmo assim ainda vê algo de incrível nos outros. Esse otimismo é levado de forma magnética por Fraser, que carrega essa gentileza e bondade mesmo depois de ter passado por tantas coisas. É possivelmente a sinceridade (tão pontuada no filme) do ator que faz Charlie ser o ponto mais interessante e melhor trabalhado da obra. E talvez seja essa mesma sinceridade que falte no diretor para conseguir criar as emoções que gostaria com seu melodrama sem força. Talvez Aronofsky se saia melhor no caos dos impactos enlouquecedores do que na tentativa de emocionar pela humanidade.


Filme assistido a convite da Sinny Assessoria e California Filmes

A Baleia chega aos cinemas em 23 de Fevereiro.


Nota da crítica:

3/5






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