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Foto do escritorRaissa Ferreira

Angela (2023)

Com filme pobremente construído, Hugo Prata não só não dá uma obra à altura de Ângela Diniz como também consegue reduzir lamentavelmente sua história



A história de Ângela Diniz ficou muito conhecida nos últimos anos graças a um podcast, o Praia dos Ossos de Branca Vianna, que explorou como o assassinato da socialite escancarou um machismo na sociedade e culminou em protestos feministas após o julgamento. Recentemente o STF derrubou o uso da tese da legítima defesa da honra, que ficou famosa justamente pelo caso de Ângela, largamente debatido no podcast antes mencionado, mas quase esquecido por Hugo Prata que só lembrou de falar sobre isso nos textos finais. Todo filme é uma escolha, é claro, do que dizer, e nesse caso, a decisão não foi de focar no que é mais notável sobre o caso de Ângela, mas sim em seu relacionamento com Doca, que nesse longa é só Raul mesmo. O problema é que parece que não importa muito que caminho essa obra fosse tomar, o resultado seria trágico. O que mais parece um apanhado de clipes intercalados com cenas onde realmente algo acontece, ou uma série feita para a televisão que se uniu na tentativa de formar um longa-metragem, é o resultado de Angela. Uma confusão que muitas vezes não faz sentido, com personagens fracos e caricatos e uma falta de nexo. Não é a primeira cinebiografia que Hugo Prata dirige, sendo responsável por Elis (2016) que também não tem muita personalidade, mas ainda passa na frente de Angela, só que ainda falta muito para o diretor encontrar uma voz própria.


É triste como parece faltar interesse do filme na própria Ângela, não só interesse como afinidade com a história da mulher. Tudo parece muito largado na obra e em muitos momentos as cenas nem parecem se ligar entre si. Prata sempre recorre a longas sequências do mar ou qualquer outra observação com uma música de fundo para transitar nessa narrativa, deixando tudo mais sem sentido ainda, é uma história que vem do nada e vai para lugar nenhum. Não é à toa que para resumir rapidamente o que acontece após Raul (Gabriel Braga Nunes) atirar em Angela (Isis Valverde), o diretor se escora em imagens do assassino preso e um texto na tela. Decepcionante para dizer o mínimo, a falta de capacidade de contar uma história. Mas se o foco não era o feminicídio e suas consequências na sociedade, e sim o relacionamento abusivo entre Doca e Ângela, o filme não faz melhor trabalho nesse ponto. A química entre os dois é bastante falha e o longa não se dedica realmente a construir essa relação, se valendo de cenas de sexo para ilustrar a torridez do casamento, mas esquecendo que é preciso mais do que dois segundos de nudez e algumas movimentações bruscas para relatar uma paixão.



Os personagens sofrem de personalidades pobres e simplistas, Raul o homem agressivo, extremamente caricato, encontra em Gabriel Braga Nunes um bom lugar, já que o ator parece usar aqui os mesmos recursos de atuações passadas. Alguns papéis parecem saídos de uma novela antiga e outros já estão nos tempos atuais, nada se encontra nesse quesito, o que não é surpresa visto o restante da obra. É um desencontro generalizado, o filme não sabe se é um clipe erótico e cafona ou uma drama sério sobre uma mulher real, a montagem costura esses momentos do jeito mais travado possível, o texto não ajuda e em muitos momentos é cômico de tão fraco. Assim, Angela é um longa que não flui, é truncado, e por vezes até parece um compilado de cenas deletadas, o que denota que os realizadores não sabiam muito bem onde queriam chegar com isso tudo e também, não tinham um real entendimento sobre o caso de Ângela Diniz.


Mesmo que Isis Valverde pudesse fazer um bom trabalho aqui, o material que ela tem é muito fraco e raso para entregar uma Angela que faça jus à da vida real. Não é que a socialite fosse uma pessoa incrível que merecia um filme melhor, a questão passa longe de seu caráter, mas sim da dimensão de tudo que ocorreu em sua vida e como os julgamentos que Ângela passou refletem uma sociedade que pune as mulheres em primeiro lugar e culminaram em movimentações feministas importantes na época. Prata parece ignorar tudo isso para contar uma história de relação abusiva medíocre que nem sequer é capaz de pincelar um debate sobre essa absolvição machista, e também falha como biografia.


Seu ato final é matar Angela como se todo seu filme tivesse realmente construído algo bom o suficiente para dar um gosto de injustiça a esse momento, mas é só mais uma cena fraca. Fica a esperança de que alguém faça um filme melhor sobre essa história que tem tantas coisas proveitosas a se tirar.


 

Nota da crítica:

1,5/5




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