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‘Cha Cha Real Smooth — O Próximo Passo’ e as dores do crescimento

Foto do escritor: Raissa FerreiraRaissa Ferreira

Cha Cha Real Smooth

“Sinto muito, amadurecer é difícil” diz Leslie Mann que dá vida a mais uma mãe parceira e empática que Cooper Raiff retrata em seus filmes. Essa relação familiar diz muito sobre o desenvolvimento de Andrew ao longo do filme, um jovem adulto que acabou a faculdade e foi jogado ao mundo sem rumo. Deixado pela namorada que seguiu outros planos que não incluíam ele e sem emprego, o protagonista interpretado pelo próprio diretor volta a viver com a mãe e o irmão mais novo e arruma um emprego em um fast food. E quem não se sentiu totalmente perdido depois da faculdade que atire a primeira pedra.


Mas Andrew tem algo que nem todo mundo tem. A relação com sua mãe e seu irmão é de apoio, cumplicidade e amizade, algo que reflete diretamente na forma como ele encara seus relacionamentos e afetos. Desde o começo, Cha Cha Real Smooth se mostra um filme sobre corações partidos e desde sua primeira decepção amorosa, Andrew é confortado pela mãe e se mostra alguém aberto, disposto a amar, gostar e quebrar a cara. Por isso, é natural que ele volte ao lar para se recuperar mais uma vez de um coração partido, pela ex namorada, pela falta de perspectiva de futuro e pela vida. E lá, ele é acolhido e tem lugar para crescer e se encontrar.


Nesse caminho, o jovem de apenas 22 anos tem encontros que o farão amadurecer e enxergar sua jornada de outras formas. Seja na breve ocupação como animador de festas, nas trocas com o irmão entrando na adolescência e conhecendo o primeiro amor ou no curto tempo que passa com Domino (Dakota Johnson) e sua filha, Lola.

Analisando seu trabalho anterior, Shithouse (2020) é fácil perceber as ligações e o amadurecimento de Cooper Raiff. Nos dois filmes a relação familiar é parecida, mostrando uma base sólida para crescer e enfrentar as dores da vida. Além disso, as conexões afetivas são construídas em diálogos importantes, mais longos em Shithouse mas talvez mais profundos em Cha Cha Real Smooth. É como se Cooper estivesse crescendo e amadurecendo de um filme para o outro, encontrando nas pessoas que cruzam seu caminho ferramentas para se tornar adulto — enquanto personagem — e formando seu estilo de direção, sua forma de retratar a vida no cinema.


Assim como no recente A Pior Pessoa do Mundo, de Joachim Trier, Cha Cha é mais um produto dos tempos atuais que retrata o caminho que todos nós estamos vivendo e reflete sobre como as pessoas que encontramos podem mudar tudo, assim como nós também afetamos suas vidas. Apesar de mais velha e em outra fase de sua vida, Domino também vai ser marcada por esse encontro. Afinal, as pessoas entram em nossas vidas, fazem seu trabalho e o que fica para sempre são as memórias. De vez em quando encontramos uma Domino no caminho, mas a vida segue e todo coração partido se recupera, se preparando para se partir outra vez

Assim, o diretor constrói um filme com um texto forte mas que flui naturalmente mesmo quando toca em assuntos mais sérios. Em pequenos detalhes dos personagens ele mostra que todos estão meio perdidos ou tentando se encontrar. A amiga de infância passa pela mesma fase que ele, mas ainda se pergunta se já atingiu seu auge e o deixou passar. Domino tenta superar seus medos para se comprometer a uma relação mais madura. David está aprendendo a se relacionar enquanto observa atentamente cada passo do irmão mais velho. É fácil se identificar, seja essa sua fase atual de vida ou tendo já passado por ela, ainda estamos todos crescendo e nos encontrando, não importa a idade.


A sensibilidade de Cha Cha Real Smooth fica marcada em nós muito depois de assistir ao longa, me deixando muito curiosa para ver o que mais Cooper Raiff tem para nos mostrar. No fim, seu trabalho é certeiro em dizer que nossas lembranças não vão embora, porque tenho certeza que vai ser muito difícil esquecer esse filme.




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